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segunda-feira, setembro 06, 2010

Pastor e político ao mesmo tempo: não dá



Ontem começou o horário eleitoral na tv, e como sempre a parte mais engraçada (para não dizer trágica) é a aparição dos candidatos a deputado (ontem foram os federais, hoje os estaduais). Havia figuras como o palhaço Tiririca, o Kiko do KLB, a Mulher-Pera. Mas, em meio a tantos candidatos, não dava para não notar a presença dos "candidatos-gospel".

Se não é possível, em geral, identificar a crença religiosa de candidatos católicos, espíritas, umbandistas, budistas, seicho-no-iês, etc, não há como não identificar um candidato evangélico. O discurso é sempre o mesmo: o nome de Jesus e o linguajar gospel. O candidato de número 7000, por exemplo, é um pastor que disse que 7000 é o número de Deus, que com o 7000 o fogo desce, 7000 ninguém esquece (e não é que funcionou? Não lembro do candidato, mas lembro do número dele!). E como ele, outros fizeram seus "apelos" pelo voto gospel. A cantora Mara Maravilha, por exemplo, apelou para sua fama para indicar a votação em seu atual marido, Dr. Alexander alguma-coisa. Espero ansiosamente para assistir aos apelos dos prs. Marco Feliciano e Dilmo dos Santos, além do "Eita-Deus" (não sei o nome do pr, mas em todo o ano político seu slogan é o mesmo).

Ser pastor, líder religioso, e deter um cargo político, ao mesmo tempo, não dá. Nem vou entrar no mérito da quantidade de escândalos que nossa bancada evangélica tem proporcionado, quando deveria ser exemplo, ser sal e luz naquele lugar. Vou mencionar algo mais prático, a tal lei da física, onde um corpo não pode ocupar dois espaços ao mesmo tempo.

Bom, vejamos:

No site da Câmara dos Deputados, há a agenda dos congressistas. Dei uma olhada, e verifiquei que sempre há alguma programação de segunda à quinta-feira. Nas sextas-feiras, sempre há uma sessão ordinária "cancelada" (ah, se todas as categorias emendassem o final de semana dessa forma!). Enfim, subentende-se que o expediente político ocorre de segunda a quinta, pelo menos.

De um político que diz "servir a Deus", espera-se que seja exemplo. No mínimo, que participe de todas as sessões (exceto em casos graves, como doença, morte na família), assim como um trabalhador evangélico de qualquer setor necessite cumprir sua jornada de trabalho da melhor forma possível. Assim, um dito "pastor" estaria longe da sua congregação a semana inteira, ainda mais se for deputado federal e sua comunidade estiver fora do Distrito Federal. Sobra-lhe, em tese, sexta, sábado e domingo para se dedicar às suas ovelhas.

Mas o trabalho de um congressista não se resume a estar presente nas sessões. Segundo o site de um candidato (a propósito, não o estou recomendando), são atribuições de um deputado federal:

- Discutir e votar o Orçamento da União (quanto o país irá gastar na saúde, educação, infra-estrutura, saneamento, segurança pública, etc);

- Elaborar leis;

- Discutir e votar projetos de lei de iniciativa do presidente da República e dos tribunais superiores;

- Atender, pessoalmente, ou através dos seus assessores, os seus eleitores, segmento social ou região, sempre que possível, ouvindo pedidos e encaminhando-os aos órgãos governamentias ou apresentando-os em plenário;

- Convocar os ministros de Estado para prestar, pessoalmente, informações sobre assuntos previamente determinados;

- Apreciar as concessões e renovações de canais de rádio e televisão;

- Fiscalizar e controlar os atos do presidente;

- Prestar contas dos seus atos.

- Autorizar a instalação de processo contra o presidente e vice-presidente e ministro de Estado.

Como se vê, boa parte do trabalho de um deputado necessita de tempo, tanto para pensar e elaborar projetos, quanto para ler e ficar ciente dos temas de votação, além de atender à população (evangélicos e não-evangélicos também). Assim, digamos, lá se vão pelo menos a sexta e o sábado.

Sobrou o domingo, em tese. Nesse dia, ele terá que descansar (afinal, ninguém é de ferro), e atuar em sua congregação. E mesmo que tenha muita energia e consiga fazer tudo isso, eis outra questão:

O que é mais importante? O chamado pastoral ou um cargo e salário político?

Sim, pois se o pastor-político for fiel em seus princípios, dedicará pelo menos 5 dias para a política, e quando muito 2 dias para seu ministério pastoral. A proporção já denota o que acaba sendo prioritário em sua vida, deixando o trabalho na igreja como algo secundário, uma espécie de hobby, onde as ovelhas continuam sem pastor.

Ser pastor e ser político não dá. Quem diz que dá está é abrindo mão do trabalho pastoral para receber poder terreno e um bom salário. A desculpa de que se tem que estar em Brasília para que o Brasil seja do Senhor Jesus é a mais esfarrapada possível, a se notar pelos escândalos políticos gospel que já conhecemos. O que muitos querem é poder e dinheiro, simples assim, e seria muito mais coerente que não colocassem o nome de Jesus no meio disso.

Sinceramente me sinto envergonhada quando vejo "pastores" usando jargões gospel para tentar abocanhar os votos das ovelhas. Mais sensato seria abrirem mão de seus cargos eclesiásticos e só então tentarem a vida política. Mas abrir mão do poder espiritual sobre os fiéis também não é interessante, já que, pelo menos na teoria, é possível tê-lo junto ao poder terreno.

Coitadas das nossas ovelhas sem pastor.

Retirado do blog Uma estrangeira no mundo

Um comentário:

Marco Colaneri disse...

Vim seco pra postar um comentário, mas nem se faz necessário (até rimou! :D).

É exatamente como eu penso.

:/

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