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terça-feira, março 29, 2011

Na Costa do Marfim, 30 mil se refugiam em igreja contra conflito



Foto: Reuters

Estrangeiros esperam para voltar a seus países em Abidjan, Costa do Marfim

Até 30 mil pessoas estão refugiadas em um complexo de uma igreja católica na Costa do Marfim para tentar escapar dos confrontos no país, um missionário disse à BBC.

Um padre na missão católica da cidade de Duékoué disse à BBC que os combates entre o Exército do país e forças leais a Alassane Ouattara, o vencedor das eleições de 2010 reconhecido internacionalmente, estão ocorrendo em volta da igreja.

O padre, que não quis se identificar, disse que muitos dos que buscaram refúgio na missão são imigrantes de outros países do oeste da África que estavam trabalhando nas plantações de cacau da região e que muitos chegam com ferimentos a bala.

Quando falou com a BBC na manhã desta terça-feira, o padre afirmou que estava escondido embaixo de uma mesa e que ainda podia ouvir o tiroteio na cidade. Segundo ele, alguns disparos eram feitos perto da igreja.

"Estamos ouvindo o combate... em frente da igreja, e as pessoas estão dentro da igreja, correndo aqui dentro", disse.

O padre pediu que a missão seja considerada um refúgio pelas facções que estão em confronto no país e acrescentou que as condições de higiene no local estão ruins.

A crise na Costa do Marfim teve início em novembro, após as eleições presidenciais. Apesar de Alassane Ouattara ser considerado o vencedor pela comunidade internacional, seu rival, Laurent Gbagbo, que tentava a reeleição, se recusa a deixar a Presidência.

Três frentes

Um porta-voz da ONU na Costa do Marfim, Hamadoun Touré, informou que os combates agora estão ocorrendo em três frentes, entre as forças leais a Ouattara e as forças do governo de Gbagbo.

A ONU ainda acusa as forças partidárias de Gbagbo de disparar contra civis na maior cidade do país, Abidjan, na segunda-feira, matando pelo menos dez pessoas. Segundo a organização, outro grupo de partidários de Gbagbo queimaram um homem vivo na cidade.

Cerca de um milhão de pessoas já fugiram da violência no país, a maioria de Abidjan, segundo dados da ONU.

O porta-voz da organização também acusou as forças leais a Ouattara de derrubar um helicóptero da ONU perto de Duékoué.

No oeste, partidários de Ouattara atacaram a cidade de Duékoué e outra cidade, Daloa. No leste, eles afirmam que tomaram a cidade de Bondoukou.

O repórter da BBC na cidde de Bouake, região central do país, afirmou que as forças de Ouattara fecharam a fronteira com a Libéria para impedir que os partidários de Gbagbo recrutem mercenários daquele país.

As forças de Ouattara controlam o norte do país desde a guerra civil de 2002.

Fonte UOL e iG

sexta-feira, março 25, 2011

Engajamento pelos que sofrem



Segundo o diretor da missão Portas Abertas, Carlos Alfredo, os crentes livres precisam despertar para o drama da perseguição religiosa.

Por Marcos Stefano


Setenta por cento da população mundial vive em locais onde existe algum tipo de limitação à liberdade religiosa. Queremos engajar a Igreja brasileira na causa da liberdade religiosa, levar os crentes daqui a discutir a questão da perseguição.
O tempo da tenebrosa Cortina de Ferro, conjunto de nações comunistas, vassalas da extinta União Soviética na opressão aos crentes em Jesus, já é passado. Contudo, novos "golias" se levantam em pleno século 21 contra a ação da Igreja. Um dos principais é o islamismo, crença que avança em todo o mundo, inclusive no Ocidente. A militância muçulmana, baseada em políticas de Estado no mundo árabe, representa a maior ameaça do momento ao Evangelho. Em países como Arábia Saudita, Iêmen e Irã, para citar apenas alguns, professar o cristianismo pode levar à morte. Mas a missão Portas Abertas tem feito tudo para não só encorajar e ajudar os cristãos que sofrem por sua fé, como também estimular os crentes que vivem no mundo livre a adotar essa causa como sua. A entidade internacional, fundada em 1955 pelo missionário holandês Anne van der Bijl - ou Irmão André, codinome adotado para mantê-lo no anonimato na época em que contrabandeava bíblias para o Leste Europeu -, é hoje o maior braço de apoio à Igreja Perseguida.

Há 13 anos na missão e um no cargo de secretário-geral, o pastor Carlos Alfredo de Sousa comanda o escritório brasileiro de Portas Abertas, em São Paulo. É uma equipe enxuta, bem de acordo com a filosofia da missão: empregar o máximo de recursos na atividade-fim e manter a transparência financeira e administrativa. "Temos mais de 5 mil projetos em andamento no mundo", diz Alfredo. Membro da Igreja Aliança Cristã e Missionária do Aeroporto, casado, dois filhos, ele encontrou na missão uma maneira de atender ao chamado. "A Igreja brasileira é uma das mais dinâmicas no mundo e queremos que ela se envolva com o drama dos cristãos perseguidos. Esse é um privilégio e também um desafio que Deus nos entregou", acredita. Carlos Alfredo recebeu CRISTIANISMO HOJE para esta entrevista:

CRISTIANISMO HOJE - Com o fim do comunismo, antigo fantasma da Igreja, qual é a grande ameaça à fé, hoje?
CARLOS ALFREDO - O Muro de Berlim caiu e o comunismo entrou em decadência. Mas, entre céticos e fanáticos religiosos, a perseguição tem crescido de forma alarmante em todo o mundo. O Instituto Pew Fórum publicou uma pesquisa que mostra que 70% da população mundial vive em locais onde existe algum tipo de limitação à liberdade religiosa. Países como o Brasil são uma minoria. E a tendência é que as restrições religiosas se tornem cada vez mais severas, mesmo que supostamente visem a defender a liberdade. Caso exemplar é o da França, que aprovou uma lei pela qual, em lugares públicos, não se pode ostentar símbolos religiosos, sejam eles quipás de judeus, véus de muçulmanos ou cruzes de cristãos. E isso está acontecendo em países onde, teoricamente, há toda a liberdade.

Portas Abertas não é uma missão convencional, que treina e envia obreiros para o campo. Como é o trabalho da organização?
Atuamos nos países e regiões onde existe perseguição, independentemente de qual seja seu motivo. Nosso trabalho é identificar os crentes locais, estabelecer formas de contato com eles, aferir suas necessidades e atendê-los com um objetivo: fortalecê-los em sua fé. Temos hoje cerca de 5 mil projetos em andamento, como distribuição de bíblias, treinamento de obreiros, fornecimento de microcrédito e iniciativas para geração de renda - já que, em muitos lugares, os cristãos são impedidos até de trabalhar -, entre outros. Procuramos também dar visibilidade internacional a casos de prisão e abusos contra cristãos em todo o mundo. Quando damos visibilidade a transgressões aos direitos humanos, a tendência é que a pressão, principalmente quando vem de governos, diminua. Nenhum governo quer ter problemas internacionais. Em dezembro, entregamos à ONU um manifesto intitulado Free to believe ["Liberdade para crer"], com mais de 500 mil assinaturas contra a Resolução da Difamação Religiosa.

Que resolução é essa?
A Organização da Conferência Islâmica, que congrega 57 países, tem apresentado sistematicamente na ONU um projeto que dá aos governos envolvidos o direito de dizer quais visões religiosas podem e quais não podem se expressar em seus países, bem como autoridade para o Estado punir aqueles que professem confissões "inaceitáveis", de acordo com o que acreditam. Isso equivale a tornar a perseguição legal, criminalizando palavras e ações contrárias ou diferentes de uma opção religiosa particular - no caso, o islamismo. Se aprovado, esse instrumento também dará legitimidade internacional a leis nacionais que punem, por exemplo, a blasfêmia contra o Islã ou que proíbam críticas à religião majoritária. Com isso, minorias religiosas, não somente cristãs, passarão a sofrer muito mais pressão, especialmente, em países islâmicos.

Especialistas em ciências da religião preveem que, em menos de três décadas, a Europa se tornará majoritariamente muçulmana. A liberdade religiosa no Ocidente corre risco?
Basta andar por qualquer país europeu para se ver grandes grupos islâmicos, bairros inteiros. Isso ainda não é um dos maiores motivos de preocupação, pois a Igreja lá, apesar de decadente, ainda é livre. A diferença entre a Igreja perseguida e a Igreja da Europa é que aquela é muito mais ativa e está, inclusive, disposta a pagar o preço para ver seus conterrâneos convertidos a Cristo. As agências missionárias tradicionais devem atentar com mais carinho e cuidado para a Europa, que entregou-se ao secularismo. O que está acontecendo na Europa é um processo irreversível - o continente deixou de ser celeiro de missões para se tornar um campo missionário.

E no Brasil, o senhor enxerga algum movimento que possa contrapor-se à livre expressão de crença?
A curto e médio prazos, não vejo nenhuma ameaça à liberdade religiosa no Brasil, mesmo com a eventual aprovação do Projeto de Lei 122/06 [N.da Redação: a proposta institui, entre outras medidas, a condenação legal à chamada homofobia]. Mesmo que ele seja aprovado, a probabilidade de ser derrubado no Supremo Tribunal Federal é grande, pois é inconstitucional. Nosso país ainda é cristão - veja como as discussões sobre a legalização do aborto, que conta com a oposição ferrenha da maioria dos católicos e evangélicos, influenciaram tanto as últimas eleições.

Mas a restrição ao discurso evangélico contra a homossexualidade não representa uma ameaça ao trabalho dos pastores e das igrejas?
A questão mais grave não é essa. Independentemente da aprovação ou não, o problema é que a sociedade brasileira já está se posicionando na defesa e na simpatia ao homossexualismo. Na mídia, você já percebe a valorização do comportamento homossexual. De agora em diante, mesmo que não leve a uma prisão ou ao fechamento de uma igreja, qualquer posição contrária ao homossexualismo já será duramente questionada. A Igreja deve se posicionar contra todo pecado, independentemente de qual seja, se homossexualismo ou corrupção - e não, classificá-lo. A Igreja perseguida nos dá um bom exemplo dessa estratégia. Num país onde existe perseguição, é necessário se posicionar como cristão. Não há meio termo.

Processos de revolução social e econômica geralmente antecedem momentos de grande mudança espiritual, como aconteceu no Reino Unido no século 18 e, mais recentemente, no Leste Europeu. Na sua opinião, a China passa por situação semelhante hoje? 
Nesses próximos anos, se houver algum movimento social que possa trazer uma mudança para a Igreja, um avivamento, acredito que acontecerá na China. Aquele país vive um período de transformações, com a abertura econômica, mas ainda mantendo um forte controle político e social pelo Estado. As igrejas de lá ainda sofrem muito, mas o processo já tem trazido alívio a muitas delas, principalmente nas grandes cidades. Por outro lado, também temo, pois a Igreja, quando consegue a liberdade, tende a ser mais acomodada. Na China mesmo, muitos jovens cristãos estão deixando o interior para ir ganhar dinheiro nas metrópoles. Esse novo estilo de vida atrai a juventude, e a tendência é de os valores cristãos ficarem em segundo plano. Parece contraditório, mas a liberdade muitas vezes mais prejudica a Igreja do que a ajuda.

O governo brasileiro acaba de reconhecer a legitimidade de um futuro Estado palestino. Se essa nação de fato for implantada, o que mudaria em relação ao cristianismo na região?
A decisão representa um apoio importante para uma população necessitada, e para se reparar uma injustiça histórica. Mas, na prática, não muda muita coisa, por causa do peso do Brasil. Se fossem os Estados Unidos, seria outra dimensão. A situação na região é complicada e isso, por si só, dificulta muito o trabalho missionário. Quando estive por lá, conversei com cristãos palestinos e judeus messiânicos, ou seja, crentes em Jesus dos dois lados do conflito. Há uma enorme dificuldade em trabalhar a reconciliação entre esses dois grupos. O judeu messiânico resiste a se relacionar com o cristão palestino. Ambos os lados têm suas posições em relação à terra e seus sentimentos de dor; acompanharam de perto os acordos e resoluções nos últimos anos, mas sabem que apenas Cristo pode trazer a paz definitiva àquela região. A Igreja brasileira tende a ser mais sionista, apoiando Israel, mas sem conhecer o contexto. O Israel de hoje é secularizado, não sabe quem é Deus e não o busca. Apenas uma minoria é religiosa. Em relação à presença missionária brasileira, no lado palestino, somos muito bem recebidos. Eles nos amam. Seria muito bom que os grupos de cristãos brasileiros que visitam Israel tirassem um tempo para estar entre seus irmãos palestinos. No Brasil, temos um potencial enorme e estamos nos estruturando para aproveitá-lo. Nos próximos 15 anos, queremos ter 1 milhão de brasileiros engajados na causa da Igreja perseguida - não apenas contribuindo, mas orando, escrevendo cartas, visitando, enfim, agindo de alguma forma em favor dos seus irmãos que têm os mais básicos direitos negados devido à fé que professam.  

O senhor acredita que é possível despertar a Igreja do mundo livre para as necessidades dos crentes que sofrem perseguição?
Costumo dizer que, quando a Igreja preocupa-se com missões, geralmente se lembra de dois personagens: o missionário ou o perdido. Mas, nessa temática, não se fala sobre o que acontece quando esse perdido se converte. Uma coisa é se converter no Brasil; outra, é aceitar o Evangelho no Oriente Médio, no norte da África ou no sul da Ásia. A Igreja Perseguida precisa ser incluída, urgentemente, na pauta missionária. Não se pode olhar para as nações unicamente como povos não alcançados. Tudo bem que há muitos lugares para os quais precisamos enviar missionários; mas também há países e regiões em que isso é impossível. Lá, existem igrejas locais que precisam ser fortalecidas.

Missões de origem internacional estão enfrentando dificuldade para captar recursos e manter suas atividades no Brasil. Como Portas Abertas tem enfrentado essa crise?
Acho que o grande problema das outras missões é que ficaram por demais dependentes, esperando recursos de fora. Desde o começo, Portas Abertas Brasil nunca dependeu de recursos externos. Fomos aprimorando nossa forma de trabalho no Brasil, e isso deu confiabilidade à organização. Temos auditorias interna e externa, há prestação de contas. Mesmo com sua origem estrangeira, a missão tornou-se uma parceira brasileira, por respeitar e trabalhar com a Igreja nacional. A contribuição financeira do Brasil no orçamento mundial de Portas Abertas tem aumentado gradativamente. Em 2011, devemos ficar entre as seis bases que mais contribuem para os projetos de campo, ficando atrás de países ricos como Holanda, Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha, e em patamar semelhante ao da França.

O governo brasileiro já sinalizou que pretende exercer maior controle sobre as instituições do Terceiro Setor. Isso pode prejudicar as missões evangélicas?
Qualquer organização do Terceiro Setor deve ser muito transparente. Isso é um princípio básico, que, se não for respeitado, fará com que as fontes de financiamento se fechem. As modernas fundações, por lei, já são preparadas para auditar quanto entra e o que é feito de seus recursos. Uma minoria de igrejas e entidades evangélicas presta contas, divulga quanto arrecadou e em que gastou para os fiéis. Isso é um processo de aprendizado. Mas, quem não deve, não teme. Nossa única preocupação é continuar mandando recursos com isenção do Imposto de Renda. Se o governo quiser tributar 15% da arrecadação das entidades, será um valor elevado. 

Hoje, com as modernas tecnologias de informação e transmissão de dados, o contrabando de Bíblias em papel, que deu origem à missão, ainda é vantajoso?
Desde a época do cassete, como muita gente nas regiões que atendemos não sabe ler, já gravávamos e distribuíamos textos sagrados em fitas para gravador. Hoje, muitas pessoas em países fechados já leem as Escrituras através de microchips. Portas Abertas está atenta às novas mídias, usando-as principalmente em favor do público mais jovem. Mas, não tem jeito - em muitos lugares, o papel ainda é a única mídia disponível. E continuaremos, durante anos, contrabandeando o bom e velho livro de capa preta.

quarta-feira, março 23, 2011

Namoro santo



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Texto de Bety Orsini publicado originalmente em O Globo

Há quatro anos, a advogada Ana Maria desistiu das delícias do sexo. Aos 32 anos, ela já teve vários relacionamentos. Alguns duraram meses, outros, uma noite. Depois de muito investimento emocional em relações fadadas ao fracasso, ela decidiu fazer sexo só casada.

- A mulher sempre coloca um peso emocional enorme na possibilidade de um relacionamento para valer, o homem não.

Autora de "Por que os homens amam as mulheres poderosas?", Sherry Argov afirma que a dificuldade valoriza o produto. "Quanto tempo você deve esperar antes de transar? O máximo que puder" – recomenda a best-seller americana.

Missionária da comunidade católica Canção Nova, Myrian Rios segue à risca essa recomendação. Há oito anos sem namorar, ela é uma das adeptas do namoro santo, ou seja, sexo agora só depois do casamento. Mas o que significa exatamente namoro santo?

- É quando a gente se sente atraído por alguém e começa a conhecer, sair junto, ter uma convivência saudável – explica Myrian. – Assim, o primeiro beijo acontece, o primeiro abraço… Mas o namoro santo não inclui a relação sexual. Muita gente me pergunta "E se deixar para depois do casamento e for ruim?". Respondo uma coisa que aprendi na minha experiência como mulher: o beijo diz tudo. Se ele for bom, se bater aquela vontade de encontrar novamente… Então o sexo será maravilhoso.

Myrian lamenta que muitas mulheres insistam no relacionamento, mesmo quando o beijo não é bom.

- É muito difícil o sexo ser bom se o beijo não é – diz Myrian, que não impõe sua visão aos filhos Edmar, de 14 anos, e Pedro, de 9. – Edmar ainda não namorou, mas observa o comportamento dos amigos e diz que eles estão muito apressados. Outro dia, ele contou que foi à festa de uma colega e ela organizou uma fila para que todos os meninos a beijassem na boca. Depois, todos ficaram falando mal dela. Eu disse que não achava aquilo bom, nem por parte da menina, nem dos meninos. E ele concordou comigo. Não sei se meus filhos vão adotar o namoro santo, mas com certeza respeitarão as mulheres.

O sexo liberado dos anos 60 se exauriu, diz o psicólogo Sócrates Nolasco. Para ele, o sexo não é mais suficiente para manter uma relação.

- Hoje, se faz sexo sem culpa e com bastante facilidade, mas parece que não tem sido suficiente. Sexo fast food ou delivery viraram mercadorias consumidas por pessoas-objetos. E quando as pessoas se tornam objetos, nada dará certo mesmo. Tentar um retorno ao tradicional pode ser um recurso para saber se somos mais do que genitálias excitadas. Se o encontro não vale a pena, o sexo pode valer, mas tem data de validade.

O empresário Josvander Ferreira da Rocha, de 33 anos, concorda. Evangélico há 11 anos, quando entrou na igreja adotou seus princípios, entre eles o namoro santo.

- Não sou mais virgem e sei que não é fácil adotar essa postura. Mas abrir mão do sexo não é difícil só para os homens, para as mulheres também é.

Suzana, funcionária pública, namora há um ano um rapaz adepto do namoro santo radical e, durante todo esse tempo, ele não lhe deu um mísero beijo. E quando ela perguntou o motivo, ele respondeu apenas: "Não beijo porque esquenta lá embaixo".

Como canta Rita Lee, amor sem sexo é amizade. A brincadeira é da psicanalista Ana Claudia Vaz. Ela diz que existe sempre um mal-entendido entre os sexos.

- Seria esse adiamento do sexo um certo horror frente ao desencontro da relação sexual? O prolongamento do namoro associado à perspectiva do casamento parece caminhar na direção contrária das relações descartáveis, de curto prazo e instantâneas que vemos acontecer a cada vibe da chamada modernidade.

Ana Claudia lembra que amar é uma habilidade que encontra variações na cultura, nos padrões sociais e nas invenções humanas. E diz que é no mínimo curioso esse retorno ao namoro casto.

- Que promessa carregaria tal conduta? A garantia? O sucesso do encontro? Na busca pelo amor de um homem há um grande investimento da mulher, como se ela fosse encontrar algo de muito valor ao ser amada por aquele que acredita ter alguma coisa a lhe dar. O que pedem as mulheres com as suas demandas? Esta seria uma nova roupagem dos seus inúmeros pedidos? Homens querem sexo e a mulher quer amor. Essa máxima, como qualquer generalização pode ser encobridora e perniciosa – analisa Claudia, lembrando que, assim como o amor, a mulher não se deixa decifrar totalmente.

A bela dentista Fernanda Santos Oliveira, 29 anos, também optou pela castidade. Virgem até hoje, ela diz que não tem vergonha e nem esconde de ninguém sua opção.

- Mas não ando por aí falando sobre isso, vida sexual é coisa íntima. Meus amigos sabem e respeitam, assim como eu respeito a opção deles de ter vários parceiros. Sei que não é fácil, estudei na faculdade de medicina, com muitas festas e gente bonita. É claro que existe tesão e desejo, mas nunca mudei de ideia.

E se alguém lhe pergunta o que ela fará se depois do casamento o sexo não for bom, ela responde.

- Como nunca experimentei, não tenho parâmetros para dizer o que é bom. Nem meu futuro marido, que também fez essa opção. Por isso, sempre seremos únicos e especiais um para o outro, ninguém vai ficar comparando nada.

Livia Garcia Roza, psicanalista e escritora, acha que hoje a exigência de fazer sexo apenas depois do casamento "só pode partir de uma exigência religiosa, sobretudo dos evangélicos fundamentalistas, já que o desejo não tem data certa." Maria Cristina, de 32 anos, discorda. Diz que casou virgem por opção pessoal.

- Minhas avós, minha mãe e minhas tias casaram virgens, assim tomei a decisão de me manter pura até o casamento. Sempre achei bonita a ideia de encontrar uma pessoa que tivesse uma relação onde o amor fosse muito além do desejo. Para mim, o casamento representa essa relação de amor com honestidade, fidelidade, cumplicidade e exclusividade.

Para Maria Cristina, só o fato de estar dentro de uma igreja não significa que uma pessoa vá se casar virgem.

- Tenho amigas e pessoas ligadas a igrejas que não se casaram virgens. Acho que cada um de nós toma a sua decisão e ela deve ser respeitada. Mas no mundo em que vivemos, com grande apelo sexual, casar virgem é diferente. É quase impossível para uma pessoa colocar sua opinião sobre namoro casto sem ser atacada. O assunto vira motivo de deboche. Por isso não gosto de discutir minha decisão em público.

E conta que, depois de dois anos de casada, tem certeza que tomou o caminho certo:

- Eu e meu marido vivemos a relação que sempre desejamos, estamos nos descobrindo a cada dia.

Bonita, assediada, a modelo e estudante de jornalismo Aiana Soares Santos do Nascimento, 23 anos, Miss Estado do Rio 2007, não pensa em mudar de ideia.

- Sempre fui firme nesse meu propósito, sei que os frutos que eu vou colher serão muito melhores do que um prazer momentâneo. A maioria dos meus amigos lida bem com o meu posicionamento mas reconheço que alguns ainda se impressionam, mas isso não me abala.

É possível levar uma vida serena dispensando o sexo? A recepcionista Rosangela Maria diz que sim.

- Fui uma mulher de muitos parceiros, mas parei. Não sou religiosa, mas tenho amigas que são, e sinto que elas ficaram muito mais felizes depois que decidiram guardar seu corpo para alguém que tenha amor de verdade – explica Rosangela, que não faz sexo há cinco anos.

Lembrando que a castidade sempre foi considerada sinônimo de santidade, o escritor e psicanalista Carlos Eduardo Leal diz que a santa sabedoria dos clérigos, padres e pastores disso muito se aproveita para angariar fieis mas que, no entanto, a fidelidade a Deus sempre teve um preço muito alto a pagar.

E cita Freud, que afirmava que a punição espera pelo desobediente, dando como exemplo na História, o casal Abelardo e Heloisa, entre tantos outros que sentiram o peso da desobediência.

- Mas, e hoje? Por que a virgindade até ao altar voltou a ser tão propalada entre as meninas? A Igreja Católica sempre fechou os olhos para muitas coisas, inclusive, todos sabemos, para os padres, seus "meninos" e as freiras. No refúgio do claustro, muitas aventuras acontecem. Já os evangélicos subiram o tom do radicalismo e, em nome de Jesus, fazem do corpo um lugar sagrado para um único homem. Porém, o tabu da virgindade nunca conseguiu evitar o calor das pulsões no corpo ardente dos hormônios em ebulição dos jovens. Temor e tremor parecem continuar funcionando, mas em alguns casos só na aparência ou apenas na última fronteira a ser cruzada, rompida.

Para Leal, o valor simbólico do hímen continua sendo muito alto: ato consagrado a Deus.

- Mas em todo caso, como não é preciso mais colocar um lençol branco manchado de sangue nas janelas, nunca se sabe o que ocorre por debaixo dos panos. Tem gente que, ao contrário do ditado, põe a sua mão no fogo e adora. Mas, isso é segredo.

dica do Fabio Pereira - vi no Pavablog

segunda-feira, março 21, 2011

Lamentações de Ricardo Gondim



por Matheus Soares

Qual é a sua reação quando alguém muito querido está profundamente enfermo? O que você faz quando alguma pessoa amada recebe a notícia de que seu câncer é terminal e já não há muito o que se fazer? Qual é seu sentimento quando vê imagens na TV de crianças subnutridas em países de terceiro mundo? E a sua postura quando uma grande onda invade praias e cidades ceifando milhares de vidas? Qual é seu pensamento quando vê nações sob regimes totalitários e ditatoriais?

A natural tendência humana é acostumar-se a esse tipo de atrocidade, é criar um bloqueio emocional para que tais coisas não lhe aflijam. A maioria de nós vive a vidinha de cada dia, preocupados com a fatura do cartão de crédito e com o financiamento do carro. A grande maioria está mais ocupado procurando o celular com mais recursos tecnológicos e aparelhos eletrônicos caros do que com o moribundo que bate à nossa porta.

É por isso que homens como Ricardo Gondim são extremamente raros. Ele é desse tipo de pessoa que olha para o mundo com os olhos da compaixão, que não nutre uma visão distorcida e triunfalista de uma sociedade que se afoga nela mesmo, mas que consegue ir além das barreiras do próprio ego para ao menos tentar sentir o que os muitos que estão sofrendo sentem. Mas dizer que suas palavras são sempre entristecidas é uma tremenda mentira, porque esse tipo de homem raro é capaz de reconhecer e compartilhar das melhores e mais belas poesias desse mundo, consegue captar nas situações corriqueiras singularidades que apenas os apaixonados são capazes de perceber. Um homem capaz de falar de Jesus, o Cristo, de forma tão doce e singela capazes de transformar até mesmo o mais duro coração, não apenas por méritos próprios, mas por uma ação graciosa do Espírito Santo de Deus.

O profeta Jeremias lamentou profundamente a destruição de Jerusalém, mesmo tendo avisado por inúmeras vezes seus moradores de que eles precisavam voltar a buscar a Deus para escapar da condenação. É o que Ricardo Gondim vêm fazendo durante anos, avisando dos desvios clericais, das sandices evangélicas, das restrições farisaicas impostas aos crentes, da politicagem religiosa, das mentiras nos bastidores dos templos, e enquanto tudo isso acontece o mundo continua jazendo no maligno, os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.

A função profética há muito se perdeu em nosso meio cristão, só se fala de bençãos materiais e vitórias terrenas, e os verdadeiros profetas que trazem a verdade, lamentam e choram vendo o povo caindo em destruição estão cada vez mais escassos. Que Deus me permita ser contado junto com esses homens que não se dobraram a Baal, assim como o Ricardo.

Nas palavras de Jesus: "Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, apedrejas os que a ti são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e não o quiseste!"

sábado, março 19, 2011

O monoteísmo do coração e o politeísmo da imaginação



Deste modo a poesia ganhará a mais elevada dignidade, e será mais uma vez no final o que foi no princípio: a professora da humanidade. Pois não há mais filosofia, não mais história: apenas a poesia restará quando tiverem desaparecido todas as ciências e todas as artes.

Ao mesmo tempo dizem-nos com tanta frequência que a grande multidão deveria ter uma religião que apele para a sensibilidade. Porém, não é só a grande multidão que precisa dela, mas também o filósofo. Eis do que precisamos: um monoteísmo da razão e do coração e um politeísmo da imaginação.

Quero em primeiro lugar apresentar uma ideia que, até onde eu saiba, não ocorreu ainda a ninguém. Precisamos de uma nova mitologia, mas uma mitologia que esteja a serviço das ideias; deve ser uma mitologia da razão.

Antes que tornemos as ideias estéticas, isto é, mitológicas, elas não terão qualquer atração para as pessoas. Do mesmo modo, se sua mitologia não é racional o filósofo deve envergonhar-se dela. Portanto o iluminado e o não-iluminado poderão finalmente dar as mãos: a mitologia deve ser filosófica para tornar as pessoas racionais e a filosofia deve ser mitológica para tornar os filósofos gente sensível. Então a eterna unidade reinará entre nós. Não mais haverá o olhar de desprezo, não mais o cego tremor das pessoas diante de seus sábios e sacerdotes. Só então poderemos esperar o desenvolvimento igualitário de todas as potencialidades, de cade indivíduo e de todos os indivíduos. Nenhuma potencialidade será mais reprimida, e portanto reinarão universais liberdade e igualdade para todos os espíritos. Um espírito elevado enviado do céu deve estabelecer essa religião entre nós: será a última e maior obra da humanidade.

Hegel (ou quem sabe Schelling, a autoria é controversa),
em Das älteste Systemprogramm des deutschen Idealismus (cerca de 1797)

quinta-feira, março 17, 2011

Sobrevivendo com fé em Cristo no Japão




Cíntia Aragão Kaneshigue (no Japão)  

Hachimore, Aomori. Após terremoto ocorrido no ano passado, em 15 de julho, na mesma região em que ocorreu neste mês de março de 2011, por volta das 6 da manhã posto de gasolina, recebe fila de automóveis que superava  500 metros de comprimento.

"Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos" - 2 Co. 4.8, 9.

Hoje 17 de março, as notícias em relação aos desabrigados são animadoras. O aeroporto de Sendai (uma das cidades mais castigadas pelo terremoto e tsunami) seria liberado para pousos de aviões de grande porte, o que possibilitou o Ministério da Agricultura afirmar que irá mover-se rapidamente para abastecer 1,5 milhões de refeições e 1.250 mil litros de água por dia nos abrigos. As Forças de Defesa irão ajudar a fornecer as refeições.

Uma grande rede de postos de gasolina, o Idemitsu, afirmou a reabertura de uma unidade próxima a cidade de Sendai, cerca de 4 horas, a fim de suprir o abastecimento de combustível na região, possibilitando a maior locomoção dos sobreviventes e também o aquecimento dos abrigos através de aquecedores a base de querosene, comumente utilizado aqui no Japão.

Infelizmente com o que se diz respeito à usina nuclear Fukushima daiichi (leia-se dai iti) as notícias não são boas. As autoridades japonesas ainda não conseguiram dominar a situação. As tentativas de resfriar os reatores através de água do mar lançadas com helicópteros não foi bem sucedida. Depois de alguns lançamentos de água a operação foi cancelada devido a alta quantidade de radiação. No período da tarde as autoridades tomaram um outro rumo e decidiram jogar água por solo, através de caminhões pipa, a fim de estabilizar a temperatura dos reatores. A companhia responsável pela usina está tentando também reestabelecer o fornecimento de energia nas instalações para que consigam um melhor desempenho na tarefa de dominar novamente os reatores nucleares.

Ainda assim o governo nos informa que não há ainda que se temer danos à saúde, pois os níveis de radiação medidos num raio superior a 30 km, é significantemente maior do que o normal, mas não apresenta risco à saúde.A população ainda está muito aflita com esta situação.

A nossa embaixada brasileira  realizou uma opreção de resgate aos compatriotas residentes nas áreas afetadas pelo terremoto e tsunami, como também aos que moram nas proximidades da usina nuclear, resgatando 25 pessoas, o consul afirmou que possivelmente poderá ser realizada outra operação semelhante a essa.

A comunidade brasileira em sua maioria está muito apreensiva com a situação nuclear. Os consulados estão apresentando um fluxo muito acima do normal de pessoas querendo regularizar e retirar passaportes. A imigração japonesa também informou uma procura muito grande de estrangeiros buscando o seu re-entry (documento de viagem que possibilita viajar sem perder o visto que se tem). O aeroporto de Narita informou que uma grande quantidade de brasileiros se aglomerava, em busca de passagens aéreas nos balcões das companhias e informou que não há mais passagens disponíveis sem reserva.

Aprendamos também com o povo japonês, que tenho admirado cada dia mais com a sua reação em meio a tragédia. Pessoas que perderam tudo quanto possuíam, bens e parentes, passando necessidade, com falta de quase tudo, comendo uma vez por dia, um bolinho de arroz (onigiri),e ainda assim, educados, sem bagunça, tentando ordenar tudo em filas, e agradecendo sempre que são entrevistados.

As operadoras de celulares estão enviando caminhões com antena para as regiões que as antenas fixas foram danificadas. Me emocionei muito ao ver duas meninas falando com o pai ao celular, ele dizia que iria buscá-las assim que possível e elas choravam muito.

O repórter perguntou a um senhor num abrigo de Sendai se dois onigiris eram sufuiciente para ele, ao que o senhor repondeu que ele não estava pensando nisso, mas que os que sobreviveram não podiam ser egoístas e manterem pensamentos individualistas, mas sim pensarem como parte de um todo que precisa dividir o que tem para se manterem vivos.

Que lição estamos aprendendo com eles, quem dera todo o cristão tivesse coração solidário e disposto como o japonês. Sem julgar os motivos e permissões de Deus para tal catástrofe, estamos neste lugar, nesta hora porque o Senhor nos colocou aqui, para ajudar sim, mas também para aprender mais e mais através de toda essa situação.

"Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas não chegará a ti." - Salmo 91.7.

Da parte das igrejas brasileiras, não sinto essa apreensão tão grande, claro que todos tememos por uma catástrofe nuclear, mas depois da crise financeira que enfrentara, a igreja aprendeu a ser mais dependente do Senhor, e vejo uma movimentação muito grande de oração e intercessão pela nação e pela situação da usina, e também de solidariedade aos necessitados do nordeste do país.

Até agora estamos de pé, aprendendo a cada dia com esta situação ímpar.

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segunda-feira, março 14, 2011

A escolha entre o clube e o Caminho



Há dois modelos básicos de igreja. Há os chamados para fora... e os chamados para dentro.

Igreja, de acordo com Jesus, é comunhão de dois ou três... em Seu Nome... e em qualquer lugar...

E mais: podem ser quaisquer dois ou três... e não apenas um certo tipo de dois ou três... conforme os manequins da religião.

Igreja, de acordo com Jesus, é algo que acontece como encontro com Deus, com o próximo e com a vida... no 'caminho' do Caminho.

Prova disso é que o tema igreja aparece no Evangelho quando Jesus e Seus discípulos estavam no 'caminho' para Cesareia de Filipe: um lugar 'pagão' naqueles dias.

Assim, tem-se o tema igreja é tratado no 'caminho' e em direção à 'paganidade' do mundo.

Para Jesus o lugar onde melhor e mais propriamente se deve buscar o discípulo é nas portas do inferno, no meio do mundo!

Não posso conceber, lendo o Evangelho, que Jesus sonhasse com aquilo que depois nós chamamos de 'igreja'.

Digo isto porque tanto não vejo Jesus tentando criar uma comunidade fixa e fechada, como também não percebo em Seu espírito qualquer interesse nesse tipo de reclusão comunitária.

No Evangelho o que existe em supremacia é a Palavra, que tanto estava encarnada em Jesus como era o centro de Sua ação.

No Evangelho nenhuma igreja teria espaço, posto que não acompanharia o ritmo do reino e de seu caminhar hebreu e dinâmico.

Jesus escolhe doze para ensinar... não para que eles fiquem juntos. Ao contrário, a ordem final é para ir...

Enfim... são treinados a espalhar sementes, a salgar, a levar amor, a caminhar em bondade, e a sobreviver com dignidade no caminho, com todos os seus perigos e possibilidade (Lc 10).

No caminho há de tudo. Jesus é o Caminho em movimento nos caminhos da existência. E Seus discípulos são acompanhantes sem hierarquia entre eles.

No mais... as multidões..., às quais Jesus organiza apenas uma vez, e isto a fim de multiplicar pães.

De resto... elas vem e vão... ficam ou não... voltam ou nunca mais aparecem... gostam ou se escandalizam... maravilham-se ou acham duro o discurso...

Mas Jesus nada faz para mudar isto. Ele apenas segue e ensina a Palavra, enquanto cura os que encontra.

Ao contrário..., vemos Jesus dificultando as coisas muitas vezes, outras mandando o cara para casa, outras dizendo que era preciso deixar tudo, outras convidando a quem não quer ir...; ou mesmo perguntando: Vocês querem ir embora?

Não! Jesus não pretendia que Seus discípulos fossem mais irmãos uns dos outros do que de todos os homens.

Não! Jesus não esperava que o sal da terra se confinasse a quatro dignas e geladas paredes de maldade.

Não! Jesus não deseja tirar ninguém do mundo, da vida, da sociedade, da terra... mas apenas deseja que sejamos livres do mal.

Não! Jesus NÃO disse "Eu sou o Clube, a Doutrina e a Igreja; e ninguém vem ao Pai se não por mim".

Assim, na igreja dos chamados para fora, caminha-se e encontra-se com o irmão de fé e também com o próximo que não tem fé... e a todos se trata com amor e simplicidade.

Em Jesus não há qualquer tentativa de criar um ambiente protegido e de reclusão; e nem tampouco a intenção de criar uma democracia espiritual, na qual a média dos pensamentos seja a lei relacional.

Em Jesus o discípulo é apenas um homem que ganhou o entendimento do Reino e vive como seu cidadão, não numa 'comunidade paralela', mas no mundo real.

Na igreja de Jesus cada um diz se é ou não é...; e ninguém tem o poder de dizer diferente... Afinal, por que a parábola do Joio e do Trigo não teria valor na 'igreja'?

Na igreja de Jesus... pode-se ir e vir... entrar e sair... e sempre encontrar pastagem.

O outro modo de ser igreja é, todavia, aquele que prevaleceu na história. Nele as pessoas são chamadas para dentro, para deixar o mundo, para só considerarem 'irmãos' os membros do 'clube santo', e a não buscarem relacionamentos fora de tal ambiente.

A comunidade de Jerusalém tentou viver assim e adoeceu!

Claro!

Quem fica sadio vivendo num mundo tão uniforme e clonado?

Quem fica sadio não conhecendo a variedade da condição humana?

Quem fica sadio se apenas existe numa pequena câmara de repetições humanas viciadas?

Sim, quem pode preservar um mínimo de identidade vivendo em tais circunstâncias? Nesse sapatinho de japonesa?

É obvio que os discípulos precisam se reunir..., e juntos devem ter prazer em aprender a Palavra e crescer em fé e ajuda mútua.

Todavia, tal ajuntamento é apenas uma estação do caminho, não o seu projeto; é um oásis, não o objetivo da jornada; é um tempo, não é o tempo todo; é uma ajuda, não é a vida.

De minha parte quero apenas ver os discípulos de Jesus crescendo em entendimento e vida com Deus, em amizade e respeito uns para com os outros, em saúde relacional na vida, e com liberdade de escolha, conforme a consciência de cada um.

O 'ajuntamento' que chamamos igreja deve ser apenas esse encontro, essa estação, esse lugar de bom ânimo e adoração.

O ideal é que tais encontros gerem amizade clara e livre, e que pela amizade as pessoas se ajudem; mas não apenas em razão de um certo espírito maçônico-comunitário, conforme se vê... ou porque se deu alguma contribuição financeira no lugar.

A verdadeira igreja não tem sócios... Tem apenas gente boa de Deus... e que se reúne e ajuda a manter a tudo aquilo que promove a Palavra na Terra.

Tenho pavor de comunidades!

Elas são ameninantes para a alma, geram vilas de doenças, produzem inibição dos processos de individuação, e tornam os homens eternos imaturos... sempre com medo do mundo e da vida.

Sem falar que em todo mundo muito pequeno, como o da 'comunidade', as doenças tendem a aumentar... e a ganhar caras e contornos de perversidade travestida de piedade...

É o que eu chamo de peidade! Fica todo mundo querendo se meter onde não foi chamado... É um inferno!

[...] estou tentando levar as pessoas a esse entendimento e a essa maturidade, e não tenho nenhuma outra vontade interior de fazer daquilo mais uma 'igreja'.

Quero ver pessoas que sejam 'gente boa de Deus'; gente descomplicada e desviciada de 'igreja'; gente que aprenda o bem do Evangelho primeiro para si e em si mesmas..., e apenas depois para fora...

Portanto, não se trata de um movimento 'sacerdotal', intimista e fechado; mas sim de um andar profético, aberto e contínuo...

Lá não se busca a média da compreensão... Ao contrário, lá se força a compreensão...

Lá só fica quem realmente quer... e não tento jamais dissuadir ninguém ao contrario de sua vontade.

Não há complicação. Tudo é muito simples. E quem não achar que serve, está sempre livre a achar o que lhe agrada em qualquer lugar.

Ou não foi assim que Jesus tratou a tudo no caminho?

A escolha que se tem que fazer é essa: ou se quer uma 'comunidade' que existe em função de si mesma, e para dentro; ou se tem um 'caminho de discípulos', e que se encontram, mas que não fazem do encontro a razão de ser da vida.

A meu ver, no dia em que prevalecer o modelo do 'caminho', conforme Jesus no Evangelho, a vida vai arrebentar em flores e frutos entre nós e no mundo à nossa volta; e as pessoas serão sempre muito mais humanas, descomplicadas e sadias...

Mas se continuar a prevalecer o modelo 'comunitário de Jerusalém'... que de Jerusalém tem apenas o intimismo e o espírito sectário... não se terá jamais nada além do que se teve nesses últimos dois mil anos; ou seja: esse lugar de doentes presunçosos a que chamamos de 'igreja'.

Para isto... para esta coisa... não tenho mais nenhuma energia para doar. Mas para a vida como caminho, ofereço meu coração mais jovem do que nunca.

Caio
Escrito em 2005
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