por Matheus Soares
Eu não sou um adepto da "teologia da pobreza", se é que tal coisa existe, mas não é meu objetivo pregar um conceito de vida onde qualquer tipo de posse material é maligna. Acredito que podemos viver uma vida até certo ponto confortável e mesmo assim continuar sendo cristãos legítimos. O que me incomoda na verdade é o que muitos tem pregado nos últimos dias a respeito de dinheiro e riquezas, e não falo dos neopentecostais que tem a lógica do "Contribua e fique rico", mas falo de pastores tradicionais e pentecostais, que sustentam programas televisivos e outras obras para o "reino".
Enquanto apenas a linha teológica neopentecostal sustentava essas idéias, podíamos traçar uma linha divisória entre o que é evangelho e o que é charlatanismo. Mas agora essa linha foi apagada e muitos líderes do meio cristão trafegam livremente entre um lado e outro, ora defendendo valores morais concordantes com o evangelho, ora extorquindo o povo através de discursos mentirosos.
Enquanto apenas a linha teológica neopentecostal sustentava essas idéias, podíamos traçar uma linha divisória entre o que é evangelho e o que é charlatanismo. Mas agora essa linha foi apagada e muitos líderes do meio cristão trafegam livremente entre um lado e outro, ora defendendo valores morais concordantes com o evangelho, ora extorquindo o povo através de discursos mentirosos.
"Mestre, eu te seguirei por onde quer que fores" e Jesus respondeu: "As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça".
Jesus nunca deu garantias de uma vida confortável para quem almejava seguir-lhe, por mais cristãos que estes fossem, por mais bens que pudessem doar a causa do Evangelho, nem mesmo a presença do Deus encarnado assegurava que teriam onde dormir ou o que comer. Seguir Jesus não é e nunca foi uma relação de custo/benefício, porque o custo é alto e os benefícios não são parte do plano terreno. Aqueles que prometem conforto estão abertamente negando as palavras de Jesus.
"Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro".
Interessante notar que Jesus não contrapõe servir a Deus com servir a Satanás, mas sim o dinheiro. Ele, sendo profundo conhecedor da formação do homem, sabe que o diabo é apenas um coadjuvante na história da humanidade e o verdadeiro problema é a cobiça desenfreada do homem. Não existe espaço para os gananciosos desse mundo no serviço a Deus. Aqueles que falam muito de dinheiro em seus púlpitos e que incessantemente batem nessa tecla já não servem a Deus, mas às riquezas.
"Digo-lhes a verdade: Dificilmente um rico entrará no Reino dos céus. E lhes digo ainda: É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus".
Como alegorizar afirmação tão veemente quanto essa de Jesus? Tenho ouvido pregações absurdas onde pastores tentam amenizar as palavras de Cristo suavizando seu discurso para que agrade a sua platéia. Não há exegese ou hermenêutica capaz de negar essas palavras. É muito difícil que um rico entre no reino dos céus. Difícil, não impossível. Facilitar a entrada dos ricos desse mundo no paraíso é uma tentativa vã de alargar o caminho estreito. Qualquer um que afirma que Deus quer ricos nesse mundo é um mentiroso descarado.
"Se você quer ser perfeito, vá, venda os seus bens e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro nos céus. Depois, venha e siga-me".
Ninguém que tenha o seu coração no poder das riquezas pode seguir a Jesus, foi o caso desse jovem rico que saiu entristecido. Ele cumpria vários mandamentos e rituais, mas era incapaz de enxergar além da sua própria cobiça. Muitos ricos tem tido seus egos acalentados por lobos em pele de ovelha, porque a estes não interessa que fortunas sejam distribuídas aos pobres, mas que seus cofres eclesiásticos sejam cheios por dízimos polpudos de quem alivia sua consciência semanalmente nos cultos.
"Este perfume poderia ser vendido por alto preço, e o dinheiro dado aos pobres".
Jesus não é idiota. Assim como Judas não tinha amor aos pobres no seu coração, mas intenção de roubar o dinheiro arrecadado, muitos pastores clamam ajuda para seus programas televisivos, imploram por dinheiro para a construção de novas catedrais, mas que na verdade são ladrões da fé que utilizam as fortunas denominacionais para seu benefício próprio. Compra de iates, helicópteros, aviões, viagens internacionais aos lugares mais belos do mundo... tudo isso às custas dos seus apelos emocionais.
"pois o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram com muitos sofrimentos".
O apóstolo Paulo, homem trabalhador, que não se deixava ser pesado para as igrejas, mas que trabalhava em suas tendas, sabiamente afirma que não é o dinheiro a raiz dos males, mas que o amor ao mesmo. A cobiça e desespero por dinheiro faz com que muitos se desviem da fé. É isso que temos visto em muitos líderes hoje, que antigamente mostravam uma fé inabalável, uma exposição bíblica transformadora, agora buscam incansavelmente o dinheiro e acabaram por desviar-se da fé. Todo aquele que apregoa a busca desenfreada por dinheiro já não pode mais ser considerado da fé.
"Lembrem-se: aquele que semeia pouco, também colherá pouco, e aquele que semeia com fartura, também colherá fartamente."
Até aqui pudemos observar o quanto a palavra de Deus adverte com relação as riquezas, mas ainda assim pastores mal intencionados tem usado esse trecho das escrituras para garantir uma relação de troca com Deus. Sem fazer uma análise mais longa do texto e do contexto podemos afirmar que: 1) O apóstolo está falando para uma comunidade de cristãos que deliberadamente tem suprido as necessidades de outras ekklésias. Nunca falou-se em bençãos individuais, mas comunitárias. 2) A graça de Deus é produzida no coração dos crentes liberais, que "tendo tudo que é necessário" possam continuar fazendo boas obras, fazendo com que colham muitos frutos de justiça. 3) As riquezas que aquele comunidade possuía foram concedidas para que tão somente fossem generosos com os necessitados. 4) As contribuições expressam simplesmente gratidão a Deus e não desejo de retorno financeiro. 5) E, por fim, outros chegariam com louvores a Deus por ver tamanho desprendimento material dessa comunidade.
Jesus sentou-se em frente do lugar onde eram colocadas as contribuições, e observava a multidão colocando o dinheiro nas caixas de ofertas. Muitos ricos lançavam ali grandes quantias. Então, uma viúva pobre chegou-se e colocou duas pequeninas moedas de cobre, de muito pouco valor. Chamando a si os seus discípulos, Jesus declarou: "Afirmo-lhes que esta viúva pobre colocou na caixa de ofertas mais do que todos os outros. Todos deram do que lhes sobrava; mas ela, da sua pobreza, deu tudo o que possuía para viver".
Jesus não tem interesse nos ricos que dão suas sobras para o Reino, mas sim naqueles que entregam tudo que possuem sem esperar absolutamente nada em troca.
Quem pode suportar essa verdade?
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