Aline Nunes
O trabalho de Danilo Gentili, 31 anos, é ironizar a classe política no CQC (Band), comandado pelo jornalista Marcelo Tas. Já no Twitter, ele satiriza jogador que é flagrado com travesti, tira onda com o programa de Marcos Mion, e debocha do show anual de Roberto Carlos, na Globo. Na semana passada, suas piadas passaram do tom. Sobre a polêmica em torno do metrô em Higienópolis, ele escreveu, no Twitter: “Entendo os velhos de Higienópolis (bairro conhecido pela grande quantidade de judeus) temerem o metrô. A última vez que eles chegaram perto de um vagão foram parar em Auschwitz”. A gracinha rendeu críticas de todos os lados. Resultado: no sábado passado, Gentili se encontrou com o presidente da Confederação Israelita do Brasil para pedir desculpas. O fato é que, para o bem ou para o mal, o nome do rapaz está em evidência. E a Band resolveu investir nisso.
No mês que vem, ele estreia o late show Agora é Tarde. Na atração, pretende entrevistar do gari ao padre pop do momento. A direção da Band está otimista. “Ele é um talento. Onde vai, repercute com esse lado bobão”, diz Marcelo Mainardi, diretor executivo da Band. Realmente, o lado descontraído, um tanto criança, existe. Inclusive, chega ser difícil ter uma conversa séria com ele. Em entrevista ao JT, Gentili brincou com o fato de sua nova atração não dar certo e de ter colocado a mãe num asilo. O humor ficou de lado na hora de falar da perda do pai, vítima de enfarte, da criação católica e da forma como as drogas devastaram a sua família. Confira:
O programa foi uma ideia sua? Quem quer entrevistar?
Sim, eu sugeri o programa. Sou fã do formato late night. Quero entrevistar do camelô que vende peixe na feira ao ator pornô do momento e o padre em evidência. Não tenho limitações. Eu ajudei a pensar em tudo, nas pautas, nos quadros, no Ultraje a Rigor para ser a banda da atração. Só espero que assistam.
Não tem medo de dar errado, de ser atacado pelas críticas?
Não dá para ter medo. Se o programa der errado, volto para o CQC. Mas eu tento focar nesse medo de não dar certo para dar certo. Eu vou ser o que sou, não vou interpretar nada. Não sou ator. Eu sou heterossexual.
Você acha que todo ator é gay?
Não. E apenas uma piada, né?
Quem são suas referências na TV?
No Brasil, gosto do Rodrigo Faro (Record). Ele é carismático, passa simplicidade, não é uma personagem forçada. Também acho o Luciano Huck inteligente. Ele fez uma trajetória muito boa. Saiu da Band e hoje é um dos tops da Globo. Do exterior, gosto de todos que fazem late night. David Letterman é muito bom.
Além do Letterman quais outros de late show gosta?
Gosto do Craig Ferguson (comanda atração no CBC), do Jimmy Kimmel (da ABC) e do Conan O’Brien (de um talk show da NBC). E o Jimmy Fallon (sucessor de Conan O’Brien na NBC) rejuvenesceu o gênero.
Ser um ‘CQC’, alguém público, fez com que você deixasse de fazer coisas?
Fez com que eu deixasse de ir ao Habib’s. Mas dá pra ir ao Almanara. Eu gasto tudo o que ganho comendo! Eu sou aquele pobre que agora ganhou uma grana e gasta tudo em comida. Mas tudo tem os dois lados, né? Tem a inconveniência de fazer parte de um programa assim. Sobra pouco tempo para viver.
Como assim, sobra pouco tempo para viver? Você já foi pobre?
É um exagero, claro, mas com o CQC viajamos bastante, precisamos estar sempre disponíveis. Mas é claro que tem o lado bom também. O CQC é o melhor emprego que já tive, sem dúvidas!
Mas você gasta tudo comendo? Nunca comprou um carro ou fez alguma viagem bacana?
Meu carro é um Celta 2005, todo amassado! Preciso trocar, todo mundo me fala: “toma vergonha na cara e troca de carro.”Mas tenho preguiça.
Existe concorrência entre os ‘CQC’?
Não existe concorrência nenhuma! O Cortez (Rafael Cortez, parceiro de programa), por exemplo, não chega aos meus pés. Então, seria covardia concorrer com ele (risos). Tem o [(Felipe) Andreoli, (Marcelo) Tas e (Marco) Luque. Mas desses nem vou falar, seria falta de ética expor que eles são analfabetos funcionais (risos).
A sua vida amorosa ficou mais agitada depois de ser um ‘CQC’?
Sim! Agora, sempre aparece uma ou outra intimação pedindo exame de DNA pra agitar minha vida [ITALIC](risos). Sério, só resta o pó do Danilo para a vida pessoal.
Você está solteiro. É romântico?
Tenho vergonha de falar sobre isso.
E aos 31 anos, está maduro?
Estou verde ainda. Prefiro ficar verde do que maduro, assim ninguém me come (risos).
Mas ter perdido o seu pai aos 17 anos, o fez amadurecer (o pai teve um infarto e quatro meses depois a irmã morreu num acidente de carro)?
Esse fato me fez enxergar as coisas que realmente têm valor e as que não têm.
E qual foi a maior dificuldade de crescer só com sua mãe?
A maior dificuldade é que ela ronca muito (risos) . Recentemente, dei a ela um lar novo em folha, num lugar lindo, arborizado, arquitetura colonial, com cozinheira. No início, ela não gostou muito do asilo, mas ela se acostuma.
Você colocou sua mãe num asilo?
Não. Recentemente, pude comprar para ela uma casa do jeito e onde ela quis. Em breve, depois de 30 anos, poderei ver minha mãe morando numa casa própria.
Onde é? Quanto investiu?
Melhor não falar, senão vai ter muito parente tocando a campainha pedindo dinheiro emprestado.
Quais referências de seu pai levará aos seus filhos?
Meu pai não bebia, não fumava e morreu cedo. Não roubava e morreu pobre. Tirava o que tinha para dar para os outros e teve poucas pessoas pra carregar seu caixão. Depois que ele morreu, nenhum parente perguntou se seu filho precisava ou não de algo. Ou seja, em vida meu pai me ensinou a ser a melhor pessoa que eu conseguir. Em morte, me ensinou a não esperar nada em troca por isso.
Cresci vendo minha família ser destruída por drogas. Meus tios, primos, amigos da rua, todos usavam drogas. Vi tio roubando mãe pra sustentar o vício. Amigo sendo preso, prima ficando louca e virando indigente… Então, desde cedo, a imagem que formei a respeito disso é que droga é algo repulsivo. Eu me sentiria ridículo experimentando maconha ou cocaína. Às vezes, vejo um ou outro colega de profissão, que sei que usa droga, indignado no Twitter por causa da violência no Rio ou dizendo que é contra as drogas. Só consigo pensar: “Esse cara vai mais longe do que eu!” Hipocrisia nesse País é o que te leva pra cima.
E essas dificuldades que você passou o fez ficar próximo de alguma religião?
Eu vim de uma família católica. Meu avô pintava igrejas em todo o País. Aos 14 anos, li a história de Roma e depois a Bíblia. Achei a Igreja Católica uma das piores instituições que já existiu na Terra. Tentei todas as religiões que você possa imaginar. Encontrei o protestantismo, minha família odiou. Depois de um tempo, todos viraram protestantes. Eu até pregava em cultos, escrevia peças de teatro. Mas você vai percebendo que nas igrejas existem muitos outros interesses. Então, um dia me cansei de palhaçada e virei comediante. Hoje, me considero um monoteísta freelancer.
E piadista. Está arrependido por ter feito aquela piada, na semana passada, falando de judeus e comparando o Metrô em Higienópolis com os campos de concentração em Auschwitz?
Eu não posso me arrepender por ter feito uma piada. Esse é meu trabalho. Qualquer pessoa com uma boa interpretação de texto pode ler o que eu escrevi e perceber que só citei o fato histórico do passado. Em momento algum, eu disse que era a favor daquilo ou insinuei que alguém deva ser. Mesmo assim, devo desculpas se ofendi alguém. Mas, enfim, bola pra frente.
Fonte Jornal da Tarde
Um comentário:
não acho para nada engraçado esse comentário...
há que ter cuidado com as palavras que se escolhem, e muito mais quando um está na TV ou num meio de comunicação.
estava pedindo um delivery de comida em higienopolis quando ouvi ele e não podia acreditá-lo.
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