por Matheus Soares
Carlinhos era um garoto de 10 anos de idade, pele escura, olhos fundos, cabelos engrenhados, magro, muito magro. Sua roupa suja e toda rasgada denunciava a imagem de um garoto como tantos outros nesse país. Olhar de quem já sofreu muito nessa vida, envelhecido mesmo com tão pouco tempo de vida. Seus pés descalços e calejados definitivamente mostravam que esse garoto acostumou-se a longas caminhadas diariamente.
Seu pai, Agenor, homem de apenas 45 anos, mas com a aparência de mais de 60, mostrava em sua face as marcas dos sofrimentos de uma vida inteira. Radicado do nordeste para a cidade de São Paulo, viu seus sonhos desfazerem-se ao longo dos muitos anos. Catador de papelão, passava o dia recolhendo tudo que encontrava na rua, puxando sua velha carroça.
A família de Carlinhos ainda era composta pela sua mãe, dona Eládia e seus dois irmãos: Juvenal de 6 anos e Daniele de apenas 3.
Na véspera de Natal, Carlinhos não tinha mais esperanças de presentes, nem mesmo a crença em Papai Noel foi mantida. Ele sabia que a vida era mais difícil do que as vitrines mostravam. Seus antigos sonhos, de ser jogador de futebol e depois bombeiro já haviam sido apagados da sua memória, não tinha tempo para essas coisas, precisava ajudar diariamente seu pai com a carroça, percorrendo a cidade toda em busca de conseguir alguns poucos trocados para a família.
Seu Agenor estava feliz, pois conseguira um frango para celebrar o Natal com sua família, mas ao mesmo tempo decepcionado porque não podia dar nenhum presente para seus filhos e sua esposa. O sol na véspera de Natal parecia mais quente, o trabalho mais cansativo. Olhar as pessoas passando sorrindo nas ruas com muitas sacolas nas mãos parecia muito mais um castigo divino. Aonde estava esse Jesus de que tanto ouvia falar?
A noite de Natal foi simples, a mãe de Carlinhos fez o franguinho com todo cuidado do mundo, serviu a todos. E por mais absurdo que isso possa parecer, nenhum dos filhos reclamou da falta de presentes, havia um olhar de alívio estampado em seus rostos por compartilhar de tão singela refeição.
Após a "celebração" foram todos dormir, sem praticamente nenhuma conversa, apenas pensando se teriam algo para comer no outro dia.
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Esse é o fim desse conto, e se você esperava algum tipo de desfecho miraculoso, saiba que ele não aconteceu porque o Jesus que seu Agenor questionava poderia ter sido manifestado através de mim e você, mas preferimos nos preocupar em comprar presentes e preparar uma maravilhosa ceia para agradar apenas aqueles que gostamos e conhecemos.
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