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sexta-feira, abril 15, 2011

Viciados em apelo



por Matheus Soares

A origem do apelo após os sermões se dá basicamente no início do século 19 com os encontros campais promovidos principalmente pelos metodistas, tais encontros duravam alguns dias e serviam para a evangelização dos colonos rurais. No início a ida ao altar se dava de forma quase que espontânea, pois havia uma vontade enorme dos pecadores em se aproximar do altar de Deus. Embora tais práticas tivessem persistido de forma mais liturgia é com Charles Finney que o apelo se tornou aquilo que mais se parece com o que temos hoje, lutando contra o pensamento comum dos próprios presbiterianos, Finney achava de extrema importância esse movimento corporal para que as pessoas tomassem posição perante a Deus e em fuga do pecado. Foi muito criticado porque sua doutrina fugia dos preceitos reformados e se aproximava do livre-arbítrio, colocando nas mãos do pecador a decisão de se aproximar de Deus. Os grandes evangelistas contemporâneos utilizam-se largamente dessa prática, sendo um modelo hoje em dia os apelos de Billy Graham.*

Como uma fórmula bem sucedida o apelo hoje em dia é usado em doses cavalares, principalmente pelas igrejas pentecostais (e obviamente pelas neo também), onde não existe culto público sem apelo. Porém como tudo que é bem sucedido no meio evangélico e passa a ser regra de fé e prática, também sofre distorções, e a pior distorção feita com o apelo é que ele já não mais serve para desafiar pecadores à encontrar a Cristo, mas ele é usado para qualquer tipo de pregação, parecendo que tudo aquilo que se fala no púlpito merece um desafio ao crente se levantar da sua cadeira e "tomar uma posição perante Deus". Será que Deus apenas vê nossas posições se ficamos de pé, ou Ele não é o Deus que a bíblia afirma que sonda os corações e os pensamentos?

As desculpas para se promover um apelo são as mais variadas possíveis, algumas delas:

- "Senti de Deus..." Pronto, uma frase que não deixa espaços para argumentações ou questionamentos, em outras palavras a pessoa está dizendo que o relacionamento dela com Deus é tão superior ao seu e que ela estava tão em sintonia com o Divino que percebeu uma instrução especial, a qual você reles mortal não teve.

- "As pessoas precisam ser desafiadas." Essa é outra pinçada diretamente dos seminários de auto-ajuda, não tem absolutamente nada a ver com a Bíblia, tem a ver com palestras motivacionais e jogos psicológicos. Isto é, se a pessoa tomar coragem de levantar-se e ir a frente ela será definitivamente capaz de vencer seus problemas e desafios, ah é mesmo, com a ajuda de Deus.

- "As pessoas precisam receber uma oração e imposição de mãos." Uma das mais clichês, puxadas lá do Antigo Testamento onde os sacerdotes detinham todo o poder, remetendo até os patriarcas que tinham o poder de amaldiçoar ou abençoar. Verdade seja dita, tem gente que não fica na igreja se não receber uma mão na cabeça e uma oração especial, e os pastores atendem a essa demanda. Obviamente porque dá trabalho fazer isso no dia a dia, visitar os irmãos, orar uns pelos outros... Mais fácil fazer no atacado.

- "A mensagem que eu preguei exige uma decisão." A fé que se prega e que se vive hoje em dia é tão fraca e sem graça que a pessoa não consegue tomar decisões e chegar ao conhecimento no dia-a-dia, precisa sempre de um cabresto mostrando qual direção tomar. E muitos pastores amam ter as pessoas em suas mãos fazendo exatamente aquilo que eles mandam ao invés de discipular e ensinar pessoas que conheçam a Palavra de Deus e possam tomar decisões pautadas nisso no seu cotidiano. Ensinar é difícil.

- "Várias pessoas mudam de vida e atitudes nos apelos" Não discordo dessa afirmação, mas que fique bem claro que Deus usa a igreja APESAR da igreja. Deus não vai deixar de ouvir uma pessoa porque seu líder a está manipulando, Ele é amor. Aqui vale lembrar da máxima "Os fins justificam os meios", e do evangelho de resultados em que vivemos, se funciona é porque é de Deus. O islã é a religião que mais cresce no mundo...

Poderia aqui enumerar outras justificativas que os líderes usam, mas simplesmente é uma perda de tempo tão grande quanto os vários minutos em que somos submetidos todos os cultos em cada um dos apelos, porque por incrível que deveria parecer, há cultos com mais de um apelo, alguns chegando a três ou quatro!

A verdade nua e crua é que o apelo tornou-se uma nova velha forma de santificar o altar e o sacerdote, conceder poder aos líderes ministeriais de conceder bençãos à miserável platéia. O apelo tornou-se uma forma mesquinha de controle de audiência, porque pregação boa é aquela que todo mundo chora no apelo e mais da metade da igreja vai à frente. Não se pode mais ter um culto em que não exista um momento de petições perante Deus, onde as pessoas vão a frente não para se livrar definitivamente dos seus pecados, mas para suplicar bençãos de Deus, com uma oração "forte" daquele que ministra. Deus não é mais àquele que conhece minhas palavras antes que elas cheguem até a boca? Deus não é mais àquele que fala através do Espírito Santo através de gemidos inexprimíveis? Deus precisa que eu caminhe até um degrau abaixo de um pedaço de madeira ou acrílico para me abençoar?

Eu não sou contra os apelos, acredito que existam momentos em que isso é importante para a decisão de uma pessoa, e principalmente quando ela confessa com sua boca que Jesus Cristo ressuscitou dentre os mortos e declara ser pecadoras. Sou contra a uma geração inteira de líderes que enfraquecem os cristãos tornando-os simplesmente viciados em apelos, pessoas incapazes de dobrar seus joelhos na beira de suas camas sabendo que o mesmo Deus que ouve suas orações nos cultos dominicais está ali, vivendo em seu verdadeiro templo, que somos nós, e não móveis de alvenaria ou bancos de um edifício. Sou completamente contra esse tipo de mimo, uma oraçãozinha aqui, um óleo ali e então tudo bem.

Rogo para que os pastores de uma vez por todas se disponham a compartilhar o sacerdócio universal, transformando crentes em guerreiros de Deus, pessoas capazes de pelejar contra as portas do inferno e conhecedores das profundezas do conhecimento de Deus.

Eles acham que a pessoa vence um desafio levantando-se do seu lugar e indo até o altar para desfrutar de uma mudança instantânea, mas na verdade hoje o desafio é não ceder a esse tipo de apelo e confiar na ação contínua e transformadora do Espírito Santo de Deus.


* Fonte da origem do apelo retirado da Cristianismo Hoje através do site da IGREJA PRESBITERIANA FUNDAMENTALISTA BETEL

4 comentários:

Anônimo disse...

OI ENTENDES,bom e abençoado dia.
Lí o seu artigo e concordo.O apelo banalizou.Mas sem contradizer a VC,Finey e quem sabe Moody foram os criadores de tais apelos.Moody em suas conferências ele reservava uma fileira de poltronas na frente do 'altar' para aqueles que estavam desesperados.Ele despedia o povão e convidava os desesperados a vir sentar naquelas poltronas e alí ele ministrava a cada um.85% dos neo-convertidos permaneciam na fé.O apelo de nosso Irmão+Velho era:SEGUE-ME.Em Atos a iniciativa partia do povão que ouvia a pregação,confere.Hoje há apelo para a oração-genérica,o comprimido que cura todos e frustra a todos,tá?
Um abraço do tito from brasília.

Paulo Amaral disse...

A Paz do Senhor!

Matheus

Com relação ao apelo também não sou contra, mas, concordo com o comentário do autor do texto: "Sou contra a uma geração inteira de líderes que enfraquecem os cristãos tornando-os simplesmente viciados em apelos, pessoas incapazes de dobrar seus joelhos na beira de suas camas sabendo que o mesmo Deus que ouve suas orações nos cultos está ali, vivendo em seu verdadeiro templo, que somos nós".

No caso de minha conversão, lembro muito bem, em todos os apelos não saía do meu lugar no banco, sentia que faltava alguma coisa. Um dia, lendo a Palavra da Deus, no livro de Romanos: "A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo". (Romanos 10:9). Eu fui tocado pela Palavra do Senhor, a Palavra penentrou em meu coração de pedra e eu disse: "Então é isso que preciso fazer? Então que seja agora!"

Lembro que ajoelhei-me ali mesmo, naquele momento, e confessei Jesus Cristo como meu único, fiel e suficiente salvador! Glórias a Deus! Isso aconteceu em 1998, lendo a Palavra do Senhor! Não serão palavras humanas, cuidadosamente arrumadas para nos forçar a uma reação, que nos convencerá do pecado do juizo e da justiça e sim, a ação regeneradora do Espírito Santo em nosa vida: "E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo". (João 16:8). E a conversão não é vontade minha, mas única e exclusivamente de Deus: "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie"" (Ef 2:8-9)

Que Deus nos ajude em todo o tempo porque os dias são maus !

Anônimo disse...

Neste caso de "apelos" humanos e o apelo divino há diferença.Se somos parceiros de Deus o apelo vai funcionar.O apelo de Jesus o meu Irmão+Velho foi: SEGUE-ME.Em Atos houve a pregação e uma resposta do povo perguntando o que fazer - e Pedro respondeu,mas a iniciativa foi do povo que ouvia e não do pregador.
tito from brasília.

Matheus Soares disse...

Tito, concordo com você. O apelo de Jesus é muito mais expressivo e significante... vem e me segue. Exige muito mais do que simplesmente algumas lágrimas sem mudança de vida e arrependimento.

PC, realmente essa experiência do encontro com Jesus e a resposta à ela não precisa ser por causa de um pregador, mas em qualquer lugar, aliás Deus tem se revelado para muitas pessoas, porque enquanto não fizermos as obras que Ele nos enviou para fazer as próprias pedras clamarão.

Forte abraço!

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