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quinta-feira, novembro 25, 2010

Distantes do Trono



por Matheus Soares

Não é de hoje que um dos grupos mais aclamados no meio gospel tem se distanciado do Trono de Deus e das sãs palavras do Evangelho da cruz. O grupo musical "Diante do Trono" representado por sua líder Ana Paula Valadão é uma das referências no meio evangélico quando tratamos de música, e não é a toa, quatro dos seus cd's já venderam cada um mais de um milhão de cópias. Programas televisivos de grande audiência já abriram suas portas para a estridente cantora, até mesmo a satânica (para alguns) Rede Globo de televisão.

Para alguns amigos, cristãos e conhecedores do meio musical, é inegável que no príncipio da carreira o grupo despontou com canções espirituais embasadas em conceitos bíblicos. Foi um tempo onde houve, de fato, um grande impacto de adoração para os evangélicos. Músicas sendo tocadas em todas as igrejas, e ministras de louvor tentando imitar até mesmo a voz de Ana Paula.

Mas, infelizmente, o pensamento megalomaníaco dessa geração arraigou-se nesse grupo musical. Congressos e shows cada vez maiores, multidões incontáveis, e agora até cruzeiros em transatlânticos são alvos das ambições do grupo.

O leão, a pastora e o guarda-roupa(*)
Há alguns anos atrás essa "ministração" onde Ana Paula anda de quatro no palco simulando um leão caiu como uma bomba na internet e nos meios de comunicação. Discussões ferrenhas da validade do momento de "adoração" e representação foram levantadas, argumentos fervorosos lotaram fórums e blogs. Fato é que a partir dali começariam uma série de atos "extravagantes" da líder e mentora do "Diante do Trono". A cena da representação do leão seria cômica se não fosse totalmente trágica, onde tenta-se atribuir ao Espírito Santo de Deus um ato tão degradante quanto uma pessoa andando de quatro. Aqueles que tem um mínimo conhecimento das religiões afro-brasileiras identificarão que esse tipo de humilhação acontece apenas com possessões demoníacas, onde a criação de Deus é submetida a atos vergonhosos para deleite do inimigo de nossas almas.

Exu boiadeiro
Tem sido comum a pastora utilizar acessórios e/ou roupas que demonstrem autoridade ou algum princípio "espiritual". Alguns dos itens referenciados por ela: Cinto com cara de autoridade, brincos de isral, anel com pedra de ametista. Mas o ápice foi a instrução "divina" a respeito das botas de couro de cobra Python que ela teria que usar numa "ministração" em Barretos, para assim expulsar o demônio "Exu boiadeiro" que segundo ela reina nas cidades onde acontecem rodeios. De fato, Ana Paula valoriza muito a simbologia das coisas, tanto é que em determinado momento presenteou seu pai com um leão de madeira que "ministrava só de olhar" para ele. Nada mais místico e propenso aos brasileiros do que criar coisas palpáveis para uma fé frágil e desprovida de entendimento.

O Titanic gospel
E como os grandes "ministérios" evangélicos vivem de novidades, uma das mais novas no meio evangélico são os cruzeiros em transatlânticos luxuosos, onde pessoas de alto poder aquisitivo podem adorar ao seu deus e de quebra desfrutar das benésses que seu dinheiro pode proporcionar. É pecado pregar para os ricos? De maneira nenhuma, Jesus o fez com muita ousadia em seu tempo. Quem aqui não se lembra do jovem rico? Ou então de Zaqueu, que restituiu quem ele havia roubado. Ou então as palavras de Jesus dizendo que é muito difícil que um rico entre no reino dos céus. Ou mesmo quando Nosso Senhor diz que não devemos acumular tesouros nessa terra, mas nos céus. Quiseramos nós que houvesse em Ana Paula o mesmo anseio de pregar uma vida desprendida das riquezas como houve em Pedro Valdo e os Valdenses na época da reforma. Desnecessário comentar o quanto os evangélicos prezam pessoas ricas, dando-lhes os melhores assentos e acesso irrestrito aos ícones evangelicais.

Há um bálsamo em Gileade
E a fantástica idéia, obviamente vinda de mais uma mensagem "divina", qual é? Fazer uma mega unção nos mares, despejar barris de óleo por onde passarem para declarar que os mares são do Senhor. Depois de expulsar o Exu boiadeiro, nada mais óbvio do que partir contra Iemanjá.

"Seus bobinhos! Seus bobinhos! Unjam os mares! As praias são minhas! As praias são minhas!"
Sinceramente, não consigo imaginar Deus com um acesso histérico como esse, mas segundo a nossa heroína Ana Paula Valadão essa foi a mensagem recebida de Deus, que embasou sua empreitada nos cruzeiros luxuosos, dando autoridade(?) para consagrar mares e praias. Aliás, eu gostaria de saber como ela pretende atracar um transatlântico numa praia para fazer os tais cultos que ela deseja ano que vem. Isso sim só pode ser com milagre divino.

Distantes do Trono
Essa frase da excelente música do João Alexandre ilustra bem o momento em que vivemos. Atos proféticos, adorações extravagantes, novas unções, é ilimitada a imaginação dos líderes evangélicos quando se trata de criar coisas para atrair cada vez mais pessoas. Tudo sempre pautado em suas experiências e revelações divinas individuais. Quando alguém questiona os atos sendo feitos sempre a justificativa é uma direção divina especial, algo que Deus revelou exclusivamente para a pessoa em questão.

É interessante, e ao mesmo tempo triste, notar que qualquer embasamento bíblico contrário é colocado como abaixo da instrução "divina" recebida. Ora, não é justamente esse tipo de coisa que se questiona nas seitas e no catolicismo? O poder dos profetas e papa que vão além do que está nas Escrituras? Não é esse mesmo tipo de loucura que condenamos em Ellen White, a apóstola dos adventistas? Porque os líderes evangélicos teriam carta branca para usar uma instrução supostamente divina para contrariar os preceitos bíblicos?

Será que é realmente proibido pensar? Não, não podemos nos calar ante a feitiçaria gospel dos nossos dias. Não podemos ficar inertes quando vemos líderes cegos conduzindo outros cegos para o abismo. Não podemos permitir que os valores da Palavra de Deus sejam negociados por qualquer alívio de consciência que usem como palavras divinamente inspiradas.

Não estou aqui questionando as motivações de Ana Paula Valadão ou do seu grupo Diante do Trono, mesmo porque a intenção nada vale se não for acompanhada de atos corretos. Tiago nos alerta em sua epístola que precisamos mostrar nossa fé com atos e ações que glorifiquem a Deus. Intenções boas com execuções ruins não podem ser consideradas incriticáveis em nenhuma instância da fé cristã, porque isso pode conduzir muitas pessoas para um caminho errado e enganoso.

Não podemos mais deixar que as pessoas coloquem palavras tolas na boca de Deus, nem que atribuam atos vergonhosos ao Espírito Santo. Os profetas que precisamos não são aqueles que amam estar no meio do poder e da riqueza, nem aqueles que andam com latas de óleo de unção para lambuzar carros, praias ou mares, precisamos sim daqueles profetas audaciosos que apontavam os erros e pecados dos reis e líderes religiosos da sua época.

Infelizmente esse tipo de profeta está cada vez mais escasso.


* Título utilizado em alguns posts no Pavablog referente ao episódio de Anápolis onde Ana Paula Valadão anda de quatro no palco simulando um leão.

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